O PRIMOGÊNITO E O CAÇULA
Cada irmão é diferente.
Sozinho acoplado a outros sozinhos.
A linguagem sobe escadas, do mais moço,
ao mais velho e seu castelo de importância.
A linguagem desce escadas, do mais velho
ao mísero caçula.
São seis ou são seiscentas
distâncias que se cruzam, se dilatam
no gesto, no calar, no pensamento?
Que léguas de um a outro irmão.
Entretanto, o campo aberto,
os mesmos copos,
o mesmo vinhático das camas iguais.
A casa é a mesma. Igual,
vista por olhos diferentes?
São estranhos próximos, atentos
à área de domínio, indevassáveis.
Guardar o seu segredo, sua alma,
seus objetos de toalete. Ninguém ouse
indevida cópia de outra vida.
Ser irmão é ser o quê? Uma presença
a decifrar mais tarde, com saudade?
Com saudade de quê? De uma pueril
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?
Poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado “Irmão, Irmãos”, retirado da obra “Boitempo”, que trata das recordações da infância do autor.
Foto de Maxiwilian Sant'Ana Polverini, cedida para a IV Exposição Fotografia & Ciências, UFSCar Campus Araras.
Foto de Maxiwilian Sant'Ana Polverini, cedida para a IV Exposição Fotografia & Ciências, UFSCar Campus Araras.
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